Vale do Catimbau
Nossos dias no Vale do Catimbau foram de descanso, deslumbramento e reflexões.
Logo quando chegamos fomos dar uma olhada na Margarita e tivemos uma surpresa nem tão surpresa: a tampa do suspiro do óleo que fica no motor estava quebrada, a correia do alternador estava ao contrário e todo o motor sujo do suspiro do óleo. Uma tremenda sujeira.
Quando saímos da aldeia Xukuru escolhemos não revisar essa tampa que já estava um tanto mal assombrada. Escolha errada. Aprendemos aí que todo cuidado com nossa casa-kombi-margarita é pouco.
Ficamos frente a pousada de dona Zefinha -era nossa única referência no lugar. Quando entramos para perguntar por ela, nos atendeu Genivaldo. Ela não estava, mas a gente podia fazer uso do banheiro e de água para nos lavar.
No sábado pela manhã queríamos desbravar todo o parque, naquela euforia de estar diante do desconhecido. Antes de tudo, limpamos toda sujeira do motor, trocamos a correia que estava também comida, e deixamos Margarita descansando. Perguntamos para Genivaldo por um mecânico e ele disse que iria chamâ-lo. Também nos disse que um passeio com guia estava no valor de 120 reais. Como não tinhamos o dinheiro que custava um passeio com guia turístico, decidimos ir caminhando para o primeiro lugar possível: Paraíso Selvagem.
Uma reserva privatizada com piscinas naturais, água doce e pura que sai das rochas. Havia vários mirantes para todo o parque nacional. A entrada para passar o dia foi 10 por pessoa, e o camping lá é 30 por pessoa a diária.
Saímos para almoçar e não conseguimos voltar… desabamos de sono. Notamos que o dia se alargava quase que se arrastando na vilazinha do Catimbau. Despertamos e ainda estava claro, mas era fim de tarde. Fomos dar uma caminhada na vila e conhecer mais de seu povo.
Vilma e Jandira que trabalham num espaço de artesanato foram nossas primeiras amizades no povoado.
Mãe e filha, Vilma costura bolsas, carteiras e Jandira pinta camisas, quadros, e todas as outras peças que a mãe costura, com escrituras rupestres. Disse ser fascinada pela arte rupestre e do desejo de cursar arqueologia, que surgiu a partir das trilhas feitas no parque.
No dia seguinte o mecânico nos visitou, conferiu a troca da correia e pideu para a gente não pegar estrada de terra, porque essa peça só iriamos a conseguir em Arcoverde. Vimos a brecha deixada pela kombi parada e aproveitamos o ensejo para tornar real a companhia de Isabel e Tereza: nossas bicicletas. Pedalamos e caminhamos da vila até o Morro do Cachorro, Toca do Vale e o Caniom, onde fizemos uma trilha que nos levava a paisagens de grandes rochas que tinham formatos de rostos humanos, animais e abstrados.
Durante nossa caminhada de ida e volta, fomos tendo uma percepção oscilante do território. Um lugar de tirar o folego de tão lindo, mas que gira em torno do turismo e que sofre com a má distribuição da água. Havia muitas casas e terrenos para venda, o que diz um pouco sobre a dificuldade das famílias permaneceram no território.
Nosso dia terminou em Paraíso Selvagem. Chegamos por lá e perguntamos se poderiamos fazer uma troca: entrar sem pagar, mas fazer umas fotos para divulgação do espaço. Ficamos toda a tarde até o pôr-do-sol. Lugar de beleza deslumbrante e com uma vista panorâmica inigualável de parte do Vale do Catimbau.
Segunda-feira foi dia de partida. Nos despedimos das pessoas do Vale e nos encaminhamos para Garanhuns para encarar o Festival de Inverno. No caminho passamos por Arcoverde, para resolver e comprar as peças de Margarita e assim chegar tranquilos em Garanhuns.
Nossa passagem pelo Vale do Catimbau nos deixou a reflexão da importancia de se criar (e manter) uma relação afetiva e de bem estar com as pessoas de cada território que vamos passar.